ECONOMIA E DIREITO DU PARÁ

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Crise Internacional: E Melhor Prevenir do Que Remediar

Crise Internacional: E Melhor Prevenir do Que Remediar
Diante da atual Crise Econômica Internacional, que muitos analistas destacam ter o epicentro no desequilíbrio fiscal e da divida pública dos governos, principalmente, dos países centrais. Diferente da crise de 2009, que foi diagnosticada como uma crise do sistema financeiro cujo sintoma mais proeminente foi o estouro da bolha imobiliária norte-americana.  Desde o início dos anos 1990, as crises econômicas são cada vez mais generalizadas e com efeitos em cascata pelo mundo. Em maior ou menor grau os países se tornaram mais expostos e vulneráveis diante de mudanças dos níveis de expectativas com repercussões imediatas sobre o fluxo de capitais entre os países. Os agentes sempre buscam localidades para seus investimentos que possa combinar o menor risco e o maior retorno, e com a internacionalização da economia, existem maiores facilidades para a circulação e crescimento destes capitais, com conseqüências sobre os equilíbrios financeiros internos de cada nação.
Aos países emergentes o que resta fazer?  Estar com a casa “arrumada” para enfrentar os permanentes solavancos de uma economia cada vez mais interdependente.  O fundamental é ter reservas suficientes de divisas internacionais (não somente e cada vez menos dólar) para se segurar diante de permanentes crises de liquidez que hoje existem no mundo.  E, não menos importante, é ter equilíbrio nas suas contas e ter uma dívida pública sobre controle.
O Brasil vem fazendo o dever de casa?  Sobre alguns aspectos sim, mas muitos problemas estruturais vêm sendo empurrados ao longo do tempo.  O país vem a alguns anos mantendo crescentes reservas internacionais, crescimento econômico razoável, inflação e dívida interna em relativo controle.  O país, também, vem mantendo níveis relativamente satisfatórios de crescimento e ainda com inclusão social, e também demonstra ser um local atrativo para o investimento estrangeiro, em especial o produtivo.  Porém, estas ondas rapidamente podem mudar de direção, daí a razão para uma vigília permanente sobre os indicadores de estabilidade e resiliência econômica do país.
Mas nem tudo são flores para a economia brasileira, a combinação de câmbio flutuante, elevadas taxas de juros, gastos públicos e não muito baixa carga tributária, leva a gargalos importantes para serem resolvidos no curto e médio prazo, sob o risco do país tornar-se bem mais vulnerável a volátil.  Pois, os mecanismos de contágio da atual crise internacional foram ampliados e podem sim pegar o país em uma situação de contrapé.
Assim, foi bastante prudente, enquanto uma primeira medida do Governo Brasileiro, elevar a meta de superávit fiscal em R$ 10 bilhões acima do previsto, para alcançar algo em torno de 4% do PIB.  Os objetivos fiscais devem ser ainda mais ampliados, pois o país tem a carga tributária mais alta entre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China), e, em regra, tem poucas preocupações com a eficácia dos gastos públicos. Também, o Brasil enfrenta um desafio particular para a redução da taxa de juros.    O Brasil tem uma das mais altas taxas de juros do mundo, com uma média de 35% ao ano, comparado a taxas bem menores dos BRIC´S – Índia (4,3%); Rússia (12,5%) e China (6,0%).
O governo brasileiro necessita estimular mecanismos para reduzir a taxa real de juros na economia, porém sem possibilitar a expansão da espiral inflacionária. Assim, é melhor que a redução da taxa de juros passe pela redução do estoque da dívida pública com uma maior economia dos gastos do governo.  Assim, em um segundo momento é possível, reduzir os gastos com encargos da dívida, e criar uma espiral mais positiva para o crescimento econômico, com a ampliação dos investimentos públicos ou mesmo pela ampliação do crédito, principalmente o empresarial.  Este processo leva tempo para maturar e precisa ter uma firme determinação do Governo, para suportar as diversas pressões para ampliação dos gastos no curto prazo.  Mas no longo prazo, para a economia brasileira, não será possível equacionar a questão sem uma mudança mais ampla na questão tributária, nos níveis de intervenção desejados pelo Estado na Economia e na qualidade dos gastos públicos. 
A elevação do superávit primário foi uma medida de precaução importante, pois torna o país um pouco mais robusto para enfrentar a atual crise econômica internacional, mas reformas mais profundas deverão ser realizadas ao longo do tempo, porém têm um custo político mais elevado e faz muito anos que praticamente não saem do papel.  É bom lembrar, que os países que não fizeram o dever de casa e pouco se preocuparam com sua deterioração fiscal, mesmo outrora considerado como sólidos ou relativamente estáveis estão pagando um preço relativamente alto por serem mais vulneráreis aos efeitos da crise.  Por exemplo, na Grécia houve uma forte redução salarial nos setores púbico e privado acompanhado de aumento de impostos.  Já em Portugal houve um corte inicial de 5% da despesa com salários dos funcionários do Estado, e o aumento de impostos.  Tudo isto acompanhado posteriormente por uma forte recessão e grande ampliação do desemprego.  Por isto que aqui vale o velho ditado: “É melhor prevenir do que remediar”. 


Escrito por Waldecy Rodrigues (Pós-doutor em economia pela UNB e prof. UFT)                                      in economiaemfoco.zip.net

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