04/09/2012
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1147956-editorial-selic-um-ano-depois.shtml
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1147956-editorial-selic-um-ano-depois.shtml
A julgar pelo comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), está
no fim o ciclo de cortes na taxa básica de juros da economia. A redução
de meio ponto percentual que levou a Selic a 7,5%, nível mais baixo da história, pode ter sido a última de uma série iniciada em agosto de 2011.
Ao cabo de um ano, o Banco Central diminuiu os juros básicos em cinco
pontos --e a partir de agora, segundo o Copom, novos cortes, se houver,
deverão ser conduzidos com a "máxima parcimônia".
A estratégia adotada pelo BC nesse período invalidou o argumento
clássico segundo o qual os juros no Brasil não poderiam cair a níveis
mais razoáveis sem desestabilizar a economia.
Teve papel importante nesse resultado o cenário externo de forte
contração --que levou o BC a projetar um quadro de desaceleração
interna, com redução dos riscos inflacionários de curto prazo.
As incertezas sobre a retomada do crescimento não foram ainda debeladas.
O PIB do segundo trimestre mostrou nova queda dos investimentos, e o
crédito ao consumo já não desempenha o mesmo papel impulsionador do
passado.
Nesse quadro, o inédito patamar de juros é estímulo importante, que se fará sentir ao longo do tempo.
Apesar de arrefecer, a inflação permanece em nível mais elevado do que o
desejável. O IPCA deverá superar 5% neste ano, em razão do choque nos
preços de alimentos ocasionado pela seca nos EUA. As projeções apontam
para 5,5% ou mais em 2013 --ante a meta oficial de 4,5%. A gestão
austera do orçamento público é ainda mais necessária nesse contexto.
A redução dos juros deve ser comemorada. Como a taxa Selic serve de base
para o rendimento das aplicações financeiras e o custo dos empréstimos
bancários, se permanecer baixa por longo período --o que ainda é
incerto-- os efeitos na economia brasileira serão benéficos e palpáveis.
Atualmente, cerca de 80% da riqueza financeira nacional permanece na
zona de conforto de papéis públicos e outros investimentos de curto
prazo, alheia ao empreendimento e à produção. Com o baixo rendimento
provocado pela queda dos juros, é possível que esse perfil seja
alterado.
Descontados inflação, impostos e taxas, o retorno da maioria das aplicações conservadoras no Brasil já está perto de zero.
Para as empresas, o universo de projetos mais rentáveis que o juro
básico será maior, ainda mais se houver medidas capazes de atrair o
setor privado para projetos de longo prazo. A redução do ganho
financeiro também estimula o empresariado a priorizar a competitividade e
a inovação.
O juro baixo tem, portanto, um efeito dinamizador importante. No caso
brasileiro, vai além do impacto de curto prazo no PIB. Por isso, tal
como a dívida pública cadente, é preciso criar condições para preservar a
expressiva mudança de patamar da taxa básica.